Os olhos, pintados em tinta óleo à mão, não apenas observam — eles interrogam. Há algo de inquietante e íntimo no olhar que parece transcender a sua superfície de metal frio e funcionalidade rígida. São olhos que guardam, mas também que desvendam. Eles protegem segredos, enquanto sugerem que nada, na realidade, escapa à vigilância silenciosa.
 
A escolha do cadeado como suporte é, por si só, uma metáfora poderosa. Ele é um símbolo de segurança, de barreiras erguidas, de proteção contra o desconhecido. No entanto, os olhos realistas pintados sobre ele subvertem sua função: aquilo que deveria proteger torna-se também um veículo de exposição, uma ponte para o voyeurismo metafórico.
 
A pintura à tinta óleo manual, quase hipnotizante, remete à humanidade, enquanto o objeto industrial nos devolve à crueza do cotidiano. Essa fusão cria um paradoxo: o cadeado prende, mas os olhos libertam, desafiando o espectador a se perguntar o que realmente está sendo trancado.
 
A peça é, em essência, uma exploração do dualismo. Entre o olhar que observa e o cadeado que restringe, nasce uma tensão. O que significa estar seguro? O que significa estar exposto? É um manifesto contra a ideia de que a proteção é sempre silenciosa, contra a noção de que o que é trancado está, de fato, inacessível.
 
Ao criar “Wonder Eye, o ordinário se transforma em extraordinário, tecendo uma narrativa que fala de controle, de segredo, mas também de vulnerabilidade e exposição. Um objeto que, à primeira vista, poderia passar despercebido, torna-se uma voz, um alerta, um espelho. E, nesse espelho, os olhos que olham são, talvez, os nossos próprios.
 
Peças criadas em parceria com o artista e maquiador Jean Vitor Valim.